a Sobre o tempo que passa: Apetecer permanecer naquilo a que chamam paz

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.9.05

Apetecer permanecer naquilo a que chamam paz



Imagens picadas em José Fernandes dos Santos

E aqui estou. Nesta viagem do presente para o passado, feito tecido de contraditórias memórias, regressos e solavancos, vaivéns e desencontros. Aqui estou em presente. Feito futuro. Sonhando acordar para olhar a árvore centenária que me sustenta a alma. Sonho suster quem sou diante de um sol que me faça renascer e que me dê a fundura de viver.



Que bem não sabe sentir que posso, em gestos simples, conjugar felicidade em ritmo do quotidiano. Que bem não sabe poder dizer que apetecem viver e reviver estas horas que passam, quando a rorina se não confunde com o banal de um quotidiano que já não custa a sofrer em solidão.



E apetece mais. E mais ainda. Nesta serra da memória que subimos devagar, olhando ao longe a luz que me deu sonho. Neste apetecer permanecer naquilo a que chamam paz, assim semeada por mim dentro, sem que as mãos da raiva me arreganham por dentro.

Não escrevo apenas as ideias, as fantasias, as formas de uma qualquer procura. Também sinto o respirar das cores, a força das manhãs nascendo dentro de mim, as madrugadas proibidas a que me dou.



E, de caneta em riste, quase apetece levar a escrito os sonhos que tive e as felizes das incursões que fiz às profundezas da minha pequena pátria onde ainda existe a sombra aquífera das árvores centenárias nas velhas matas de outrora e os sons de uma nortada que me fazem aconchegar numa identidade feita de tambores e gaitas de foles.