a Sobre o tempo que passa: O sobrejuiz, a assessora e os bonzos que nos enredam

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.9.05

O sobrejuiz, a assessora e os bonzos que nos enredam



Não comento a indigitação do meu amigo Guilherme d'Oliveira Martins para suceder a Trigo de Negreiros, como sobrejuiz no Tribunal de Contas. O regime do Estado de Direito não devia enredar-se numa clausura sistémica que tanto restaura o rotativismo do liberalismo monárquico como a divisão entre
bonzos, endireitas e canhotos da Primeira República, só porque um golpe de Estado é tecnicamente impossível.

Mas a degenerescência manifestada por estas sinecuras começa a ser de tal maneira preocupante que se alguém metesse o poder numa Chaimite, num qualquer Largo do Carmo, nem os defensores disparariam um único tiro de resistência, nem já haveria manifestantes com júbilo na rua. Todos esperaríamos, em casa, sentados no sofá, pela reportagem da TVI e pelos posteriores comentaristas desportivos da meia noite, para que se explicasse como Filipe Habsburgo comprou o país ou como a invasão Junot foi saudada pelas forças vivas. Eis a bela ordem da servidão voluntária.

Por outras palavras, tudo como dantes, sem qualquer quartel-general em Abrantes. Portugal talvez já não consiga mobilizar aqueles mínimos factores de poder nacionais que nos davam a vontade de sermos independentes. Se ganhar Cavaco é Manuel Dias Loureiro que triunfa. Se ganhar Soares é Jorge Coelho que tinha razão. Enquanto Barroso está em Bruxelas à espera de uma reforma dourada, com comentários da jornalista assessora de Sócrates, despachada para a REPER, e Pedro Santana Lopes e Paulo Portas andam por aí. Por favor, onde fica o exílio?