a Sobre o tempo que passa: No "Diário Económico" de ontem

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.1.10

No "Diário Económico" de ontem


Uma maioria, um governo, um presidente

O principal partido da nossa oposição, se voltar a assumir-se como centro excêntrico que nos leve a nascer de novo, não pode cair na tentação de parecer mera antítese da mesma tese situacionista, para gáudio desta governação sem governo, quase em pilotagem automática de consultadorias apátridas.

O PPD já foi nortada, enquanto sinal daquele sentido do risco que misturava aventura e pragmatismo, contra as falsas tenazes ideologistas que nos encarquilham entre os extremos dos “provincianos, populistas e papistas”, contra os “tacanhos, trapaceiros e talassas”.

Nesse tempo de pais-fundadores da democracia, quando a nobreza dos criadores não era enredada pela empregomania dos filhos de algo, muitos compreendiam que o Tejo podia continuar a ser o Douro, esses rios que passam naquela aldeia do telurismo oceânico e têm como foz uma mobilização nacional que nos volte a dar a armilar.

Até porque, de tal foz, nos veio o nome de Portugal, esse signo que demos a nós próprios, quando sonhadores activos seguíamos a rota do tripeiro Infante D. Henrique, contra as Tormentas.

Foi assim que, daí, também nos vieram o Sinédrio de 1820, ou a revolta anti-devorista de Setembro de 1836. Logo, são frustrantes os gritos esquizofrénicos de um revivalismo matamouro, que é o exacto contrário de uma regeneração feita por subscrição nacional.

Porque o Porto nunca será cidade sinal dos homens livres, à Francisco Sá Carneiro, se a perspectiva portucalense não voltar a ser porta de partida para um Portugal universal.

Resta saber se, daí, pode vir revolta que, contra a decadência, exija uma nova maioria, um novo governo e até um novo presidente, que regenerem o regime contra a partidocracia capitaleira.